Archive for novembro \27\+00:00 2008

A chuva
novembro 27, 2008

Um cinza frio cobre a cidade de norte a sul, é um prenúncio, uma recado para que se fechem as janelas. Quando a primeira gota cai e estoura nos asfalto um artifício, como aqueles de dia de ano, o mundo todo se molha nele. É um estouro translúcido, genuinamente pureza A água viaja de uma abóbada estrelada, se torna dia, conheceu o cinza, o azul e finalmente estourou no fim. Quando o homem chora também chove dele uma gota. Ela se desprende do cinza, percorre o azul e estoura no fim. O homem é pura chuva, uma chuva horizontal, que não cai, desliza… Assim como a gota de chuva traz em si o todo pelo qual passou, o homem também absorve tudo por onde passou e quando morremos também estouramos em fogos brancos e translúcidos, e como a água ganhamos outra função, como a água, enquanto percorríamos nosso caminho nosso ideal era a interação, quando estouramos no final da jornada, nosso ideal se transforma, passamos a ser entes internos da formação do mundo, e como a água que passa a alimentar o fundo das terras, passamos a alimentar o fundo dos corações.

 

 

Welder Andrade


novembro 22, 2008

Não me dou bem com excessos de sinceridade

Coisa mais triste fazer alguém chorar,

Sendo que ser iludido é tão doce,

Ser feliz é tão puro

E ser ridículo é tão normal!

Welder Andrade

‘Namastê’
novembro 19, 2008

‘Namastê’ é um cumprimento que significa “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você”, ou se preferir, “ O infinito em mim saúda o infinito em você”. Bem mais profundo que um oi, ou um adeus. Um milenar conhecimento oriental que sintetiza em uma palavra o que muitos tentaram explicar em centenas e centenas de páginas durante séculos de pesquisa da relação humana.

Namastê,  é a interação mais profunda e respeitosa entre dois iguais. É a ligação genuinamente humana, que nos conecta quanto espécie, quanto corpo, quanto razão e quanto espírito. Namastê é a consciência do mundo e do outro acessível aos nossos olhos e coração. Então quando alguém lhe cumprimentar com um sincero ‘namastê’, acredito eu, que se ela souber a verdadeira cor dessa pintura, é por que ela muito te respeita e ratifica a plenitude humana entre duas pessoas.

 

 

Welder Andrade

A força a palavra
novembro 17, 2008

A força da palavra.

A palavra é a única capaz de secundarizar nosso corpo e priorizar nossa alma.

 

 

(Frase pensada hoje cedo! Por que sim, eu respiro, como e bebo palavra!)

os que lêem e são lidos.
novembro 15, 2008

Os poetas e pensadores têm muito em comum

Decidem por estudar a vida, quando é a vida que estuda agente

Essa nossa função de transcrever as coisas do mundo

Ah! Nós que somos transcritos gota a gota pelas coisas de Deus

O mundo nos vê, nós apenas o enxergamos.

                                           Welder  Andrade

Além da palavra, a imagem
novembro 12, 2008

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, discordo. Uma imagem talvez valha tanto quanto uma palavra. Nada substitui a arte de combinar palavras e transformá-las em pedaços cheios de alma, cheiro e gosto. No entanto nossos olhos ‘salivam’ pela imagem, afinal de contas, não são os olhos a janelas pro mundo? Sim, eles são. Os olhos a janela, a imagem a água e a palavra o beija-flor!

 

 

Texto pequeno, mas cheio de palavras e cores.

 

 

Welder Andrade

Carpe diem!
novembro 11, 2008

 A primeira vez que a expressão Carpe diem apareceu foi em um poema de Horácio ( 65 a.C), onde se dizia:  “ Colhe o dia (carpe diem), confie o mínimo no amanhã. Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses, Leucone, com os adivinhos da Babilônia não brinque”. Agora pense que graça há em aproveitar o dia sem saber, sem perguntar? Talvez Horácio gostasse mais de ficar sossegado, tomando vinho e paquerando ninfas.

Carpe diem, aproveite seu dia, faça melhor do que ontem. Carpe diem, desfrute sonoramente da vida, ferva de amor pela vida! Nós que nos dedicamos a pensar, mais do que quaisquer outros, devemos aproveitar todos os instantes da vida, todas as suas minúcias e seus realces. Tudo é matéria para o pensamento, aproveite a presença no mundo para mergulhar.

Ah! A vida é curtíssima, e não há tempo para gozar de tudo o que queremos, as vezes nem podemos ver o que desejamos, sendo assim, trate essas minúsculas obscenidades cotidianas, essas passagens efêmeras para  viver! Cada um ‘colhe o dia’ como lhe convém. Essa é a delícia da diversidade, alguns se dedicam a desfrutar, e os outro? Os outros também.

Epifania.

Todos nós temos um pedaço de sol e um pedaço de lua pra olhar, todos nós temos um pedaço de grama para pisar e um pouco de cheiro de chuva para cheirar! Essa nossa natureza humana nos permite apreciar tudo ao nosso redor, basta abrir os olhos e deixar olhar! Tudo é motivo para a poesia e nós somos poesia quando fazemos valer essa máxima tão universal: Carpe diem!

 

 

 

 Welder Andrade

Filosofia quintanista
novembro 10, 2008

Sinto cheiro de filosofia quando leio Mário Quintana. É incrível como quando leio tenho a impressão de que ele escreveu conversando comigo, me sinto cúmplice e co-autor, talvez seja esse o maior estágio para um poeta, fazer com que seu leitor se identifique tanto que pense que ele mesmo escreveu.

Honestamente nem sei se M.Quintana gostaria que alguém dissesse isso, mas vejo filosofia aflorando de suas palavras, uma filosofia quase aplicada a vida, prática e progressista. Talvez ele nunca tenha sido aceito na ABL, por que lá não havia uma cadeira que abarcasse tantos homens em um só, tantas palavras em um só, tanta verdade em um só, tanta proximidade em um só!

Ontem mesmo dormi com os dedos marcando páginas do “Caderno H”, foi revigorante ter uma conversa de tão alto teor antes de dormir, acho que até os sonhos foram melhores.Se filosofia é a busca pelo conhecimento do mundo, sim Quintana, meu ‘amigo’ Quintana era um filósofo brilhante!

 

 

Não te irrites, por mais que te fizerem…
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio…”   – 

Mário Quintana
 

 Welder Andrade
 

 

Desejo e sofrimento
novembro 9, 2008

Disse Schopenhauer que há maior causa dos nossos sofrimentos é o desejo. Faz bastante sentido pra mim, já  que quando se deseja muito, a frustração pode ser bem maior, como diria minha mãe: quem muito quer, pouco tem! Quanto a isso, penso ser relativo, o quanto é muito para você ou para mim? E é bem aí, que na minha interpretação Schopenhauer acertou na mosca.

Não é difícil ver pessoas que não sofrem, entre as possíveis hipóteses para tanta alegria, deve estar: essa pessoa não deseja, essa pessoa deseja pouco e por isso não se frustra, ou por fim o objeto do seu desejo também ‘ a deseja’.

Estranho isso, não? Porém bastante compreensível. Eu ousaria dizer, que sofre quem não sabe desejar. Apesar de bem estranho, é simples, um pessoa viver sem desejar é impossível, no entanto vemos pessoas felizes andando por aí, acredito. O sofrimento não é uma espécie gripe que se pega pelo ar, o que aumenta substancialmente a chance de haver pessoas felizes por aí.

Eu mesmo me questionei quando pensei em uma pessoa que saiba desejar, o desejo parece ser uma coisa tão instintiva, quase animal. Mas pense comigo, o desejo não pode nos submeter aos seus desmandos de tal forma que prive a nossa liberdade  e a nossa possibilidade de sermos felizes e estarmos em paz , sem sofrer! Está aqui o maior dos problemas, como conter o desejo para sermos mais felizes? E aqui entra a identidade particular, assim digo, por que acredito que cada um deve achar a sua própria  maneira de se ajudar.

Para e pensar como se ajudar pode ser o primeiro passo. Me deparo novamente com uma “nota distintiva de ser pessoa” de Mounier. A resposta pode-se estar em recolher-se, abdicar, jejuar das coisas do mundo, para entende-las melhor.

Apesar de tão selvagem, o sofrimento pode ser domado, nada pode nos privar de viver, nem de sermos felizes. O desejo é uma parte do que somos, nós não somos derivações do desejo. O nosso mundo é uma imagem do que somos, assim como dizem que somos aquilo que comemos, o nosso meio é feito daquilo que somos, pessoas felizes podem fazer um mundo mais uniforme.  

A felicidade é um presente pra quem sorri apesar de tudo. E eu não vejo outra missão humana maior do que ser feliz, pelos seus mais diferentes meios e fins!

 

 

 

Ps. Ninguém está livre de efêmeros e esporádicos sofrimentos, afinal de contas somos humanos, novamente, no sentido mais próprio desta palavra!

Welder Andrade

Quem é você? ( recolhimento de Mounier)
novembro 8, 2008

Quantas vezes nós ouvimos perguntar: Quem é você? E as respostas são as mais variadas: esposa da alguém; fulano, doutor em algo; pai ou mãe de alguém, etc. Mas quem é você? Não perguntaram sobre seus filhos, sobre o que você faz, ou sobre a pessoa com quem se casou. Às vezes não respondemos quem somos pelo simples fato de não sabermos. Para isso nos serve o recolhimento, para descobrir sua própria natureza, e quem fundamentalmente somos.,

Quando nos recolhemos trazemos para nós também experiências vividas com os outros, o que nos torna mais completos e passíveis à compreender o que está ‘fora de nós’. Quando nos recolhemos deixamos para trás as bagagens desnecessárias, nos livramos de pesos excessivos e inúteis para a construção da nossa identidade pessoal. O recolhimento é algo tão importante que as religiões, cada qual a sua maneira, têm um período de jejum instituído, como um meio de purificação, como um meio de entender as necessidades das outras pessoas.

Entenda-se então como recolhimento, este movimento de sístole e diástole, mister para a nossa construção humana, para a construção da nossa identidade própria, o que nos transforma em HUMANOS, no mais próprio sentido desta palavra.

 

Fiz essa anotação durante o encontro do ‘Café com Sócrates’ deste sábado, enquanto discutiam Mounier e as suas notas distintivas de ser pessoa, fui captando um pouco do que cada um podia transmitir. Essas aulas são verdadeiras terapias!

 

 

 

Welder Andrade